segunda-feira, abril 30, 2007

Veludo...

Não me recordo do toque do veludo. Lembra-me mais um som do que outra sensação. Talvez pela música...talvez por outras memórias...

De muito pouco vale ceder a uma tristeza que nos procura. Cada um de nós tem que esquecer o que tanto o faz sofrer. Parece e pode ser fácil, porque vamos encontrando pequenos momentos de felicidade. E ganhando coragem para continuar.

Preciso fazer um considerável esforço para recordar tudo o que aconteceu. Parecia ainda que não podia falar ou sequer escrever sobre a minha vida, mas ela a isso me obriga. A vida que não troco nem mudo, embora às vezes o deseje.

Um dia, de forma tão simples e pouco original, simplesmente trocámos um olhar. E sentimos que entre olhos do mesmo tom se tinham estendido tantas palavras. E depois o tempo foi passando até que pudesse encher-me de um quase atrevimento.

Confesso que com habilidade consegui saber o que não esperava e portanto não assustava.

sexta-feira, abril 20, 2007

Pensando…

Os pensamentos chocam com estrondo, avançando por pequenas vielas, patrulhadas por velhas…tão velhas e gatos vadios incapazes de os deter.
Chegam à luz e logo se escondem por de trás de sombras acinzentadas com enormes grilhões cobertos de ferrugem.

É inútil, porque logo fogem, disparando horizonte a cima, raspando pequenas folhas e soltando gotas orvalhadas quase em evaporação. Lá no alto encontrei o teu toque, a doce lembrança de um abraço, um beijo cheio de medo e felicidade, um sorriso de deslumbre que me leva para os sonhos.

Teimo em não querer descer e enfrentar os outros demónios que me aguardam e a uma explicação…um argumento para tanto amor, tantos impulsos e actos.

Gritar ajuda e faço-o de peito quase explodindo de sinceridade. Na ausência de flechas e outras armas, combato com o olhar e espero…

segunda-feira, abril 09, 2007

A rapariga de caracóis...

Se pudesse rir tinha a certeza que o faria até me doerem os músculos da barriga. Mas a vontade é de soltar sorrisos que me mantêm a baloiçar sem saber o que fazer.
Há dois dias reparei que a minha colega de trabalho tinha imensos caracóis. Seria estranho e até pouco usual, que só ao fim de meses pensasse nisto. Mas eram mesmo muitos e a cada minuto parecia que aumentavam.
Parei de trabalhar, como faço frequentemente, e pus-me a observar enquanto falava. E foi então que começou. Certas plantas, se não forem regadas, ficam com as folhas muito fracas e ao perderem vigor, começam a escorregar para junto de um vaso ou da terra. Se lhe devolvermos a água, de imediato as folhas começam a mexer-se e a levantarem-se contra a ideia de imobilidade que tantas vezes temos destes seres.
Com os caracóis da minha colega...parecia que acontecia o mesmo. Notei que, enquanto falávamos, a cada minuto que passava uma madeixa de cabelos encaracolava subitamente. De início pensei não estar a ver bem, mas ao fim de dez minutos comecei a transpirar de nervosismo. Com um relógio, controlei ao segundo o tempo que separava estes momentos e logo tive a certeza. Ao fim de exactamente sessenta segundos, lá ia mais um pedaço de cabelo para cima, encaracolando de forma rápida e tão perfeita.
Depois, parei de conversar, e os caracóis pararam também. Se continuasse calado muito tempo os outros começavam a estender-se anulando a forte ondulação que já tinham formado. Comecei de novo a falar!
Durante quase uma hora não me permiti a um meio segundo de silêncio. Os caracóis formavam-se cada vez mais rápido. Partiam a grande velocidade para o alto, unindo-se aos que já haviam feito o mesmo percurso.
A minha colega ganhava um lindo sorriso, percebendo-se diferente.
Quando já não haviam mais madeixas para encaracolar, continuei a conversar, rindo e contando histórias antigas. Os caracóis riam também e agradeceram a voz que os protegeu e fez de novo viver.