quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Uma fábula...

"Procuramos um sonho durante a vida. Quase sempre sem forçar, vemos dimensões e corpos estranho que tentam tomar este espaço. Mas não é por isso que devemos quebrar.
Cada sonho é de uma só pessoa, que o alimenta e faz crescer com doçura. Profundamente errada, é a tentativa de os roubar ou sequer partilhar, mesmo que com guerreiros do mesmo exército.
Livres são os que sem esforço vêem as suas asas crescerem, rompendo sem dor a pele que as abriga, e voam a distância segura do Sol, para de noite tocarem as estrelas."

"Foi quase sem perceber que nos olhámos e descobrimos os mesmos pensamentos que trazem insónias e corações acelerados."

Às vezes, quando o sono teima em chegar e começo a ter dores de inquietação, entro num estado de meia lucidez que está longe de uma calma que esperava para estas situações.
Recorro a técnicas inventadas para aproveitar este tempo, que era de repouso, para sonhar e construir outras realidades. Mas nem sempre com sucesso. Por vezes o torpor traz sentimentos e confusões desconfortáveis, que sinceramente me magoam.
Gratos são os momentos em que a necessidade de dormir não é imediata e posso simplesmente deixar-me voar sem preocupações de rotas ou sustentações mecânicas.
Pena ser raro, mas talvez por isso tão precioso, o estado em que quase se sonha acordado e que, estando num semi-controlo da fantasia, esta é sentida como realidade.

Querendo partilhar o que me pertence por direito, aborrece-me profundamente a técnica literária e a obrigação de um enredo bem construído para quem lhe dedica atenção. É só uma questão de paciência! Com as palavras e frases surgirá, espero eu, uma lógica para tudo isto.
Tenho dormido mal! Parece-me um excesso de energia acumulada, de pensamentos a mais para um cérebro apenas humano que não processa a velocidades tão elevadas. Mas conheço as razões para tal, ou pelo menos algumas!

Há uns anos, noutras fases, mas com os mesmos sintomas, descobri numa noite mal dormida, a razão de ser das insónias.
O mistério, encontrei-o numa fábula conhecida por poucos, e mesmo esses apenas porque lhes contei.
De Anjos da Guarda sei pouco, a não ser que o meu é poderoso e muito trabalhador. O que conheço bem são Duendes!
Sim…Duendes! Pequenos e verdes, por força de livros infantis e de estereótipos impossíveis de desalojar. E ainda bem!
O que os livros não me contaram, foi que todos nós temos um Duende! É verdade, cada alma que conhecemos tem um Duende, ou cada Duende recebe uma alma, dependendo da perspectiva. Não é importante!
Ao contrário do que me disseram, eles não vivem nas florestas Irlandesas, nem mesmo nas mais verdes e húmidas. Nem sequer vivem neste planeta que nos abriga. Vivem num outro, que não é muito diferente, a não ser pelo verde, muito mais presente e luxuriante. Aí vivem os nossos Duendes!
Há no entanto uma característica desse Mundo que convém reter. Tudo está ao contrário!
Mas não encaremos este facto em termos físicos. Não está tudo de pernas para o ar.
É no tempo que encontramos as diferenças. Quando o nosso dia nasce, o deles está a acabar e a nossa Lua só aparece depois de acordar o seu amigo Sol, que vive nesse Mundo. Até aqui tudo bem. O mesmo acontece em diferentes locais da Terra, mas como disse isto é uma fábula e nelas não existem as preocupações de Galileu ou Copérnico, nem se perde tempo a justificar realidades.
Passemos então ao principal. Os nossos Duendes!
Quando nascemos, julgamo-nos sozinhos e sem direito a protecção divina, que não a das religiões dos homens. Mas não! Essa protecção existe!
Cada vez que um bebé vem ao Mundo, existe um Duende que lhe corresponde. Mas não é um Duende recém nascido, é antes um ser velho, muito velho, que cuidará da nossa infância.
Lembram-se do que contei? Naquele Mundo tudo é ao contrário. Os Duendes começam, perdoem-me, mas não sei por que artes, por ser muito velhos e com o passar do tempo vão ficando mais novos. E é aqui que voltamos às insónias.
É que estes Duendes têm uma função. Proteger o nosso sono! Para que cada um de nós possa dormir, o seu Duende tem que ficar acordado durante todo esse tempo. Se ele se descuidar e adormecer alguns segundos a meio do dia, acordamos nós durante a noite sem perceber bem porquê.
A Natureza, no entanto, é sábia e ao gerir o equilíbrio destes Mundos traçou um plano eficaz. Os idosos dormem pouco e os Duendes muito velhos, quase nada. Esta aparente contrariedade é muito útil para quem tem que proteger os sonos prolongados de um bebé.
Ao contrário, quando os Duendes ficam mais novos, não aguentam tanto tempo sem dormir, e os nossos idosos passam a estar mais horas de olhos abertos, julgando-se muitas vezes com medo de dormir…e não mais acordar.
E foi ao conhecer esta história que percebi!

As minhas constantes e terríveis insónias! Tinha finalmente percebido ao sua causa!
Durante alguns anos, enquanto estudava, apenas porque me habituei a fazê-lo, troquei de horários. Em meses seguidos, deitava-me quase de madrugada e dormia até ao Sol já estar bem alto.
Sem perceber, obrigava o meu Duende a um esforço insuportável. Tinha que se manter acordado até horas em que deveria estar a sonhar (é assim que os Duendes recuperam forças) e dormir durante o dia com um Sol que no seu Mundo é ainda mais forte e radioso.
Ele cumpriu a sua função até ao limite das forças, mas acabou por ceder. E passou então a desmaiar de sono e de cansaço em alturas que deveria estar acordado, para que eu pudesse dormir. E então chegaram as insónias!
Hoje, cuido muito mais do meu Duende e percebi que a protecção não é apenas sua função.
(In)felizmente, outras causas nos levam o sono, e contra essas os Duendes nada podem fazer, ou melhor, quase nada! Falta apenas um segredo na minha fábula…Todos os Duendes se conhecem, mas apenas entre alguns existe uma relação forte e de união. Na sua ligação poderá estar a resposta às minhas questões. Continuo à procura…

domingo, fevereiro 25, 2007

O lago...

Conheço uma princesa. Tem longos cabelos muito claros que chegam a envergonhar o Sol, quando este espreita pela manhã.
Foi há muitos séculos que pela primeira vez a vi, numa torre que não era muito alta, mas parecia difícil de alcançar. Estava cansado, pois cavalgava há muitas horas e a poeira fazia-me lacrimejar com ardor.
Parei junto a um pequeno lago perto da torre e fiquei sentado a olhar. A princesa não parecia muito assustada, nem à procura de um herói que a resgatasse daquela prisão frágil e gasta pelo tempo. Não era normal! Qualquer donzela tem sempre um ar delicado e de quem suplica por um nobre cavaleiro que a salve do seu cativeiro. Mas ela não. Estava encostada numa espécie de varanda, claramente fingindo que não me via, enquanto soltava as folhas que decoravam o seu cabelo, para planarem suavemente até perto do lago. Algumas chegavam mesmo a cair dentro de água, mas a maioria não voava tão longe.
A minha jornada não tinha ainda um objectivo conhecido, por isso podia acampar ali mesmo, guardando a minha princesa.
Passaram três dias e três noites e ela olhou uma única vez para mim, quando uma das folhas, que já escasseavam, ajudada por uma brisa mágica atravessou o lençol de água e parou perto das minhas mãos. Peguei-lhe devagar e olhei para a torre, ainda a tempo de ver um sorriso logo escondido.
Era tarde e o mesmo Sol envergonhado descia por detrás de uma montanha. Deitei-me também segurando a folha que me fora oferecida e desejei muito poder sonhar nessa noite.
Ao primeiro sinal de dia, levantei-me rapidamente, peguei na folha, e dirigi-me à torre. A princesa lá estava como em todos os dias, parecendo não me ver, mas tudo iluminando de tanto que os seus olhos brilhavam.
Pensei falar, cantar, até mesmo trepar a ridícula torre que podia cair com um sopro fraco e desinspirado.
Aproximei-me o mais que pude e perguntei-lhe se queria vir comigo!
Ela sorriu e respondeu:
- Quando todas as folhas do meu cabelo chegarem ao lago!
Subi para o meu cavalo, ficando quase à altura da varanda, que parecia ainda mais pequena. Entreguei-lhe a folha que tinha guardado, para que os nossos dedos se tocassem, mesmo que ao de leve. Despedi-me e parti.
Olhei uma última vez para trás e reparei que o lago estava mais preenchido do que tinha percebido. Não consegui decidir se voltaria aquele lugar…

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

A Montanha da Lua...

“Diz a lenda que a Montanha da Lua pode aparecer em qualquer lugar. No meio de um deserto ou no fundo do lago mais negro. A sua escalada obriga-nos a enormes quantidades de ar e a descida ao esquecimento de qualquer cuidado.”

Uma voz rouca sempre intriga quem se preocupa com pormenores pequenos e sem razão para existirem. Ao ouvi-la perguntamos se será real ou um pouco fingida na sua nascença. Mas ela não tinha esse tipo de voz. Era calma, embora tivesse abandonado um som cristalino que agora entendo ser mais sonhado que possível.
Tinham passado três semanas até ganhar coragem. Tinha passado muito mais enquanto imaginava os sorrisos que poderiam despertar.
Naquela tarde, já cansado, consegui por fim chegar perto dela. Uma janela tinha aberto para que o meu cuidado pudesse guardar e finalmente caminhei os últimos passos. Não senti a montanha...e também não a sinto agora.
Mas ela existe e subir ao topo não seria tarefa fácil. É muito frustrante quando vemos uma linda paisagem que pensamos poder fazer parte da vista do nosso quarto. E quando finalmente espreitamos existe uma enorme montanha branca que tapa o horizonte. Chamam-lhe a Montanha da Lua, porque a sua sombra não deixa passar a luz do dia e nos faz encolher, sentirmo-nos sem força para continuar, quase desistindo.
Não é essa a opção pois a escolha foi criada artificialmente, sem certezas e com muitas dúvidas de autenticidade.

Resta-me a respiração forte e uma longa subida. Depois do seu cume há uma descida calma e sem mais perigos...

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

"O meu outro eu"...



Antigamente chamava-me miak e escrevia no "Duende Feliz".

http://oduendefeliz.blogspot.com/

Passa por lá, por favor.