domingo, fevereiro 25, 2007

O lago...

Conheço uma princesa. Tem longos cabelos muito claros que chegam a envergonhar o Sol, quando este espreita pela manhã.
Foi há muitos séculos que pela primeira vez a vi, numa torre que não era muito alta, mas parecia difícil de alcançar. Estava cansado, pois cavalgava há muitas horas e a poeira fazia-me lacrimejar com ardor.
Parei junto a um pequeno lago perto da torre e fiquei sentado a olhar. A princesa não parecia muito assustada, nem à procura de um herói que a resgatasse daquela prisão frágil e gasta pelo tempo. Não era normal! Qualquer donzela tem sempre um ar delicado e de quem suplica por um nobre cavaleiro que a salve do seu cativeiro. Mas ela não. Estava encostada numa espécie de varanda, claramente fingindo que não me via, enquanto soltava as folhas que decoravam o seu cabelo, para planarem suavemente até perto do lago. Algumas chegavam mesmo a cair dentro de água, mas a maioria não voava tão longe.
A minha jornada não tinha ainda um objectivo conhecido, por isso podia acampar ali mesmo, guardando a minha princesa.
Passaram três dias e três noites e ela olhou uma única vez para mim, quando uma das folhas, que já escasseavam, ajudada por uma brisa mágica atravessou o lençol de água e parou perto das minhas mãos. Peguei-lhe devagar e olhei para a torre, ainda a tempo de ver um sorriso logo escondido.
Era tarde e o mesmo Sol envergonhado descia por detrás de uma montanha. Deitei-me também segurando a folha que me fora oferecida e desejei muito poder sonhar nessa noite.
Ao primeiro sinal de dia, levantei-me rapidamente, peguei na folha, e dirigi-me à torre. A princesa lá estava como em todos os dias, parecendo não me ver, mas tudo iluminando de tanto que os seus olhos brilhavam.
Pensei falar, cantar, até mesmo trepar a ridícula torre que podia cair com um sopro fraco e desinspirado.
Aproximei-me o mais que pude e perguntei-lhe se queria vir comigo!
Ela sorriu e respondeu:
- Quando todas as folhas do meu cabelo chegarem ao lago!
Subi para o meu cavalo, ficando quase à altura da varanda, que parecia ainda mais pequena. Entreguei-lhe a folha que tinha guardado, para que os nossos dedos se tocassem, mesmo que ao de leve. Despedi-me e parti.
Olhei uma última vez para trás e reparei que o lago estava mais preenchido do que tinha percebido. Não consegui decidir se voltaria aquele lugar…

5 comentários:

colher de chá disse...

lindo, lindo, lindo, que saudades de tudo isto, Querido Nuno.

MG disse...

Há muito que espero que "pózinhos e arrepios" sigam o mesmo caminho do "Duende Feliz"...

Vai buscar mais ao baú, por favor!!

Kiau Liang disse...

claro que voltas, se não, nem terias olhado para trás...

*

kolm disse...

Ontem andei a tua procura.(sorriso) Perguntei por ti, mas do fundo da floresta as vozes enviaram pelo vento que ainda não tinhas chegado .
(Ainda só andas pelo Colombo. Fico a guardar que vás para o Cascaishoping também...)

A tua história. Não queria cair sempre no mesmo género de comentários, mas realmente só consigo dizer que parecem palavras minhas escritas há tanto tempo e que à medida que vou lendo vou-me lembrando...

Sorriso grande

Xuinha Foguetão disse...

Gostei! :)

Beijos