sexta-feira, dezembro 01, 2006

A discussão...

Naquela noite já não podia caminhar mais. Não sei se eram dores ou movimentos tão precários que me faziam quase cambalear.
A conversa tinha sido extenuante. Susana era uma mulher forte, que deixava de lado qualquer réstia de carinho quando discutia. Tal acontecia mesmo com assuntos de menor importância. Mas hoje tinha sido diferente. Aparentemente tinha sido descoberto!
Há cerca de dois meses que mantinha um relacionamento com outra mulher. Mais bonita, sincera e tão parecida com a Susana de há cinco anos atrás. Ela tinha mudado. Aos meus olhos ia-se tornando numa mulherzinha que me obrigava a trai-la.
A compensação chegou numa linda mulher que conheci por acaso. Passei os últimos tempos tentando, em vão, decidir-me por fazer a troca que desejava e temia.
Quase desisti até hoje de manhã quando recebi um telefonema. Susana parecia irritada. Quis saber onde andava, porque não atendera a primeira chamada, acompanhando as perguntas com sonoros risos cínicos e o repetir da mesma expressão – Tu não me conheces!
Confesso que cheguei a ter medo. É estranho e impressionante o medo a que as mulheres nos conseguem submeter. Na verdade, penso que o mérito é profundamente nosso e reside na consciência da incapacidade em nos libertarmos. Somos quantas vezes incapazes de largar a maternidade, a sua protecção projectada em mulheres e amantes. De ficarmos sós perdendo a luta por um colo que aspiramos para um dia desprezar.
Já perto da hora de almoço chegou, já irritada, perto de mim. O beijo foi como um arrancar da confissão final e o silêncio seguinte uma verdadeira tortura. Podia ver as suas veias a latejar enquanto engrossavam, preparando-se para me atacar.
Sem aguentar mais, desisti e comecei a falar.
- Susana! Sei que não me vais perdoar e que o que fiz não pode ter justificação. Mas por favor ouve-me um pouco!
Ela respirou com pouca calma.
- Não vai adiantar muito, pois a minha capacidade de te ouvir desapareceu há séculos. Mas fala!
- Eu não queria magoar-te. Sei que te vão parecer palavras gastas e sem sentido, mas tens que acreditar em mim. Não têm sido tempos fáceis e embora não me atreva a negar as culpas, é certo que existem atenuantes. Eu ando muito cansado, pressionado no meu emprego, infeliz no que a vida me tem dado. Podes não entender, mas é difícil para um homem. Não podemos aguentar tanta tradição cruel, que nos empurra a cada momento para acções e pensamentos tão errados. Quase choro quando penso no teu sofrimento e outras vezes esqueço-me de o impedir. Podes agredir-me e continuarei a amar-te para todo o sempre. Reconheço com vergonha o lugar comum e juro que não significou nada para mim. Eu amo-te!
- Ouviste-me? Eu amo-te demais!
Ela pareceu acordar nesse instante de um pesadelo.
- Não penses que me tratas como uma qualquer. Por tua culpa jantei sozinha com os teus amigos. É a última vez que aturo os teus esquecimentos. Vá, despacha-te com esse café. Ainda temos duas casas para ver hoje.

Era já tarde e ainda caminhava atrás dela. Rezava por encontrar outro caminho!

7 comentários:

Cláudia disse...

Cuidado com as mulheres...
Quando estão chateadas viram feras.
Beijinho e obrigada

Anónimo disse...

somos más....

Anónimo disse...

É incrível como os homens muitas vezes não conseguem acabar uma relação. Seja de namoro ou casamento. Porque é tão difícil decidir mesmo quando estão mal? Neste aspecto e sem feminismos, acho que as mulheres muito mais facilmente tomam decisões..
Belo texto, bjinhos

viviana disse...

oi! passei por ca pela 1ª vez...
é verdade ou é mais um romançe?
é que tou a leste!
mas se for verdade... porque sofres tanto e fazes tanto sofrer?
encontra primeiro o teu caminho e depois procura a tua felicidade!
nenhuma mulher é de ferro!
e tens muita sorte de ela de facto pareçer te ter perdoado!
bem... felicidades ok?

inBluesY disse...

1 bj*

Anónimo disse...

O medo de magoar os outros é muita vez maior do que tudo, felicidade coragem, amor, paixão,.....


e...que pena...

kolm disse...

Sinceramente... já li e reli a tua história mais de três vezes. Não tarda já tenho as personagens mais do que formadas na imaginação. (sorriso)
Mas na realidade apenas uma coisa me vem à cabeça. Por vezes só se dá valor aquilo que se tem quando se perder ou estamos na iminência de perder (...)

Espero que a tua história acabe com um final feliz... como nos filmes e nas histórias encantadas. (sorriso)