sexta-feira, novembro 03, 2006

O bilhete...

Um dia ao chegar a casa, reparei num pedaço de papel preso no limpa pára-brisas de um carro, parado mesmo em frente ao meu prédio. O carro pertence a uma rapariga que mora na minha rua e que secretamente admiro há algum tempo. Não tentem admirar ou platonicamente motivarem um qualquer interesse por alguém que não conhecem! É algo profundamente humilhante.
Mas aquele simples bilhete arrastou toda a minha atenção e com ela muita da trémula paz de espírito que sempre procuro. Chovia, e até em sonhos nevava e ele resistia. Nada parecia querer arrancar aquela folha branca do seu abrigo. Comecei a desenhar um plano que me levaria a conhecer o conteúdo da missiva. Seria um admirador rival? Um aviso de um vizinho, alguma coisa que em sonhos eu próprio escrevera e perdera da memória para sempre?
O dia acordou cinzento, mas à medida que despertava começou a ficar mais claro e alegre. Em breve pude ver um lindo céu azul que me acalmou. Dirigi-me devagar ao carro onde o bilhete ainda esvoaçava. Era estranha a sensação de caminhar para um segredo que inventara por não existir, mas que me acompanhara durante as noites habituais. As mãos estavam secas e não havia rasto de nervosismo na minha tarefa. Ao chegar perto do carro, fiquei um pouco parado, observando. O papel, já um pouco enrugado, ali continuava tornando impossível desistir.
Com muito cuidado retirei-o do vidro para o guardar no bolso direito do casaco. Depois corri, fugindo de nada.
Entrei em casa e agora, já a tremer, desembrulhei a folha onde consegui ler:

TEM COMPUTADOR?
TRABALHE A PARTIR DE CASA!
GANHE ATÉ 2.000 € POR MÊS!!

4 comentários:

kolm disse...

Deixa-me sorrir contigo neste post, porque realmente também eu tenho o condão de descrever os momentos mais simples da vida com o encantamento de uma coisa do outro mundo, mesmo que o fim seja o mais real que possa existir.

E acredito que te deves ter divertido “MESMO” a escreve-lo... (sorriso)

Anónimo disse...

Banal o papel, mas podes sempre deixar um outro em substituição, para todos os efeitos ela perdeu uma informação[importante ou não, informação].


Deixa-lhe em beneficio, um sorriso em forma de letras no para-brisas do carro, pode não mudar cenários de um amor platónico, mas vai deixar-lhe um sorriso na cara.

Anónimo disse...

Vês?????? Como a nossa imaginação é traiçoeira? Um alívio... Devias ir logo conhecer a rapariga!!!

inBluesY disse...

esta sempre foi uma das minhas preferidas :)